Foto: Marcos Correa/PR
Presidente fez
discurso de abertura; edição deste ano é virtual
Um dos principais temas do discurso
do presidente brasileiro foi o meio ambiente. Bolsonaro disse que há interesses
comerciais por trás das notícias sobre queimadas e
desmatamentos no Brasil e destacou o rigor da legislação ambiental
brasileira.
No discurso, o presidente também
falou sobre as ações de combate à covid-19 e enumerou as medidas econômicas
adotadas pelo governo pela enfrentar os efeitos da pandemia. Entre as ações,
citou o pagamento do auxílio emergencial.
"O governo concedeu auxílio
emergencial em parcelas que somam aproximadamente US$ 1 mil para 65 milhões de
pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um
dos maiores do mundo", disse.
Leia a íntegra do discurso:
"Senhor secretário-geral da ONU,
António Guterres, a quem tenho a satisfação de cumprimentar em nossa
língua-mãe;
Chefes de Estado, de governo e de
delegação;
Senhoras e senhores,
É uma honra abrir esta assembleia com
os representantes de nações soberanas, num momento em que o mundo necessita da
verdade para superar seus desafios.
A covid-19 ganhou o centro de todas
as atenções ao longo deste ano e, em primeiro lugar, quero lamentar cada morte
ocorrida.
Desde o princípio, alertei, em meu
país, que tínhamos dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego, e que
ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade.
Por decisão judicial, todas as
medidas de isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos
27 governadores das unidades da Federação. Ao presidente, coube o envio de
recursos e meios a todo o país.
Como aconteceu em grande parte do
mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o
pânico entre a população. Sob o lema “fique em casa” e “a economia a gente vê
depois”, quase trouxeram o caos social ao país.
Nosso governo, de forma arrojada,
implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior:
- Concedeu auxílio emergencial em
parcelas que somam aproximadamente US$ 1 mil para 65 milhões de pessoas, o
maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores
do mundo;
- Destinou mais de US$ 100 bilhões
para ações de saúde, socorro a pequenas e microempresas, assim como compensou a
perda de arrecadação dos estados e municípios;
- Assistiu a mais de 200 mil famílias
indígenas com produtos alimentícios e prevenção à covid;
- Estimulou, ouvindo profissionais de
saúde, o tratamento precoce da doença;
- Destinou US$ 400 milhões para
pesquisa, desenvolvimento e produção da vacina de Oxford no Brasil;
Não faltaram, nos hospitais, os meios
para atender aos pacientes de covid.
A pandemia deixa a grande lição de
que não podemos depender apenas de umas poucas nações para produção de insumos
e meios essenciais para nossa sobrevivência. Somente o insumo da produção de
hidroxicloroquina sofreu um reajuste de 500% no início da pandemia. Nesta
linha, o Brasil está aberto para o desenvolvimento de tecnologia de ponta e inovação,
a exemplo da indústria 4.0, da inteligência artificial, nanotecnologia e da
tecnologia 5G, com quaisquer parceiros que respeitem nossa soberania, prezem
pela liberdade e pela proteção de dados.
No Brasil, apesar da crise mundial, a
produção rural não parou. O homem do campo trabalhou como nunca, produziu, como
sempre, alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas.
O Brasil contribuiu para que o mundo
continuasse alimentado.
Nossos caminhoneiros, marítimos,
portuários e aeroviários mantiveram ativo todo o fluxo logístico para
distribuição interna e exportação.
Nosso agronegócio continua pujante e,
acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do
planeta.
Mesmo assim, somos vítimas de uma das
mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.
A Amazônia brasileira é sabidamente
riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha
escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras,
aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o
próprio Brasil.
Somos líderes em conservação de
florestas tropicais. Temos a matriz energética mais limpa e diversificada do
mundo.
Mesmo sendo uma das 10 maiores
economias do mundo, somos responsáveis por apenas 3% da emissão de carbono.
Garantimos a segurança alimentar a um
sexto da população mundial, mesmo preservando 66% de nossa vegetação nativa e
usando apenas 27% do nosso território para a pecuária e agricultura. Números
que nenhum outro país possui.
O Brasil desponta como o maior
produtor mundial de alimentos.
E, por isso, há tanto interesse em
propagar desinformações sobre o nosso meio ambiente.
Estamos abertos para o mundo naquilo
que melhor temos para oferecer, nossos produtos do campo. Nunca exportamos
tanto. O mundo cada vez mais depende do Brasil para se alimentar.
Nossa floresta é úmida e não permite
a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos
mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam
seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas.
Os focos criminosos são combatidos
com rigor e determinação. Mantenho minha política de tolerância zero com o crime
ambiental. Juntamente com o Congresso Nacional, buscamos a regularização
fundiária, visando identificar os autores desses crimes.
Lembro que a região amazônica é maior
que toda a Europa Ocidental. Daí a dificuldade em combater, não só os focos de
incêndio, mas também a extração ilegal de madeira e a biopirataria. Por isso,
estamos ampliando e aperfeiçoando o emprego de tecnologias e aprimorando as
operações interagências, contando, inclusive, com a participação das Forças
Armadas.
O nosso Pantanal, com área maior que
muitos países europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos problemas. As
grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local,
somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição.
A nossa preocupação com o meio ambiente
vai além das nossas florestas. Nosso Programa Nacional de Combate ao Lixo no
Mar, um dos primeiros a serem lançados no mundo, cria uma estratégia para os
nossos 8,5 mil quilômetros de costa.
Nessa linha, o Brasil se esforçou na
COP25 em Madri para regulamentar os artigos do Acordo de Paris que permitiriam
o estabelecimento efetivo do mercado de carbono internacional. Infelizmente,
fomos vencidos pelo protecionismo.
Em 2019, o Brasil foi vítima de um
criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando
severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e
turismo.
O Brasil considera importante
respeitar a liberdade de navegação estabelecida na Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar.
Entretanto, as regras de proteção
ambiental devem ser respeitadas e os crimes devem ser apurados com agilidade,
para que agressões como a ocorrida contra o Brasil não venham a atingir outros
países.
Não é só na preservação ambiental que
o país se destaca. No campo humanitário e dos direitos humanos, o Brasil vem
sendo referência internacional pelo compromisso e pela dedicação no apoio
prestado aos refugiados venezuelanos, que chegam ao Brasil a partir da
fronteira no estado de Roraima.
A Operação Acolhida, encabeçada pelo
Ministério da Defesa, recebeu quase 400 mil venezuelanos deslocados devido à
grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana.
Com a participação de mais de 4 mil
militares, a Força Tarefa Logística-Humanitária busca acolher, abrigar e interiorizar
as famílias que chegam à fronteira.
Como um membro fundador da ONU, o
Brasil está comprometido com os princípios basilares da Carta das Nações
Unidas: paz e segurança internacional, cooperação entre as nações, respeito aos
direitos humanos e às liberdades fundamentais de todos. Neste momento em que a
organização completa 75 anos, temos a oportunidade de renovar nosso compromisso
e fidelidade a esses ideais. A paz não pode estar dissociada da segurança.
A cooperação entre os povos não pode
estar dissociada da liberdade. O Brasil tem os princípios da paz, cooperação e
prevalência dos direitos humanos inscritos em sua própria Constituição, e
tradicionalmente contribui, na prática, para a consecução desses objetivos.
O Brasil já participou de mais de 50
operações de paz e missões similares, tendo contribuído com mais de 55 mil
militares, policiais e civis, com participação marcante em Suez, Angola, Timor
Leste, Haiti, Líbano e Congo.
O Brasil teve duas militares
premiadas pela ONU na Missão da República Centro-Africana pelo trabalho contra
a violência sexual.
Seguimos comprometidos com a
conclusão dos acordos comerciais firmados entre o Mercosul e a União Europeia e
com a Associação Europeia de Livre Comércio. Esses acordos possuem importantes
cláusulas que reforçam nossos compromissos com a proteção ambiental.
Em meu governo, o Brasil, finalmente,
abandona uma tradição protecionista e passa a ter na abertura comercial a
ferramenta indispensável de crescimento e transformação.
Reafirmo nosso apoio à reforma da
Organização Mundial do Comércio que deve prover disciplinas adaptadas às novas
realidades internacionais.
Estamos igualmente próximos do início
do processo oficial de acessão do Brasil à OCDE. Por isso, já adotamos as
práticas mundiais mais elevadas em todas as áreas, desde a regulação financeira
até os domínios da segurança digital e da proteção ambiental.
No meu primeiro ano de governo,
concluímos a reforma da Previdência e, recentemente, apresentamos ao Congresso
Nacional duas novas reformas: a do sistema tributário e a administrativa.
Novos marcos regulatórios em
setores-chave, como o saneamento e o gás natural, também estão sendo
implementados. Eles atrairão novos investimentos, estimularão a economia e
gerarão renda e emprego.
O Brasil foi, em 2019, o quarto maior
destino de investimentos diretos em todo o mundo. E, no primeiro semestre de
2020, apesar da pandemia, verificamos um aumento do ingresso de investimentos,
em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso comprova a confiança do
mundo em nosso governo.
O Brasil tem trabalhado para, em
coordenação com seus parceiros sul-atlânticos, revitalizar a Zona de Paz e
Cooperação do Atlântico Sul.
O Brasil está preocupado e repudia o
terrorismo em todo o mundo.
Na América Latina, continuamos
trabalhando pela preservação e promoção da ordem democrática como base de
sustentação indispensável para o progresso econômico que desejamos.
A liberdade é o bem maior da
humanidade.
Faço um apelo a toda a comunidade
internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia.
Também quero reafirmar minha
solidariedade e apoio ao povo do Líbano pelas recentes adversidades sofridas.
Cremos que o momento é propício para
trabalharmos pela abertura de novos horizontes, muito mais otimistas para o
futuro do Oriente Médio.
Os acordos de paz entre Israel e os
Emirados Árabes Unidos, e entre Israel e o Bahrein, três países amigos do
Brasil, com os quais ampliamos imensamente nossas relações durante o meu
governo, constitui excelente notícia.
O Brasil saúda também o Plano de Paz
e Prosperidade lançado pelo Presidente Donald Trump, com uma visão promissora
para, após mais de sete décadas de esforços, retomar o caminho da tão desejada
solução do conflito israelense-palestino.
A nova política do Brasil de
aproximação simultânea a Israel e aos países árabes converge com essas
iniciativas, que finalmente acendem uma luz de esperança para aquela região.
O Brasil é um país cristão e
conservador e tem na família sua base.
Deus abençoe a todos!
E o meu muito obrigado!”
Fonte: Agência Brasil
https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-09/veja-integra-do-discurso-de-bolsonaro-na-75a-assembleia-geral-da-onu
https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2020-09/bolsonaro-discurso-onu-2020