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sábado, 15 de dezembro de 2018

Você podia ao menos ter silvado - Publicado no jornal Correio do Estado


Foto: Studio $P
Conta a lenda que certa vez passando por um vilarejo distante vinha um pastor e um menino caminhando lentamente e trocando ideias. Em determinado momento ao se aproximarem de uma quadra onde alguns meninos brincavam na rua, eles se dirigiram ao  pastor e disseram: "Pastor, não se aproxime muito daquela casa abandonada na outra quadra, porque nela mora uma cobra perigosa. Ela ataca todos que se aproximam".
            O pastor levou em conta o que ouviu e ficou atento. Ao se aproximar do local mencionado olhou atentamente e viu que a cobra saiu de sua toca rapidamente. Nesse momento ele deu um tempo. Ficou observando cautelosamente e depois de uns minutos dirigiu-se a ela com tranquilidade:  “Bom dia, vejo que você é malquista nesse lugar e todos se afastam porque você ataca quem se aproxima. Que tal ser mais dócil, assim as pessoas podem se aproximar e até gostar de você”. 
A cobra ouviu a mensagem e ficou pensativa. Quem sabe essa mudança de atitude poderia lhe render bons frutos e boas amizades. E assim ela mudou de atitude.
            No dia seguinte os meninos foram brincar no lugar habitual e ao se aproximarem da cobra notaram que ela estava diferente. Não atacava, não silvava e nem oferecia risco, estava dócil, como pregara o pastor. Resolveram então se aproximar mais e mais até que chegaram perto. Ela permaneceu mansa, não silvou, nem atacou. Os meninos estranharam essa reação e resolveram brincar com a cobra. E ela aceitou!
            Pegaram a cobra e esticaram, jogaram um para o outro, fizeram cabo de guerra, cada grupo esticava a cobra para o seu lado para medir força, enrolaram a cobra no braço e jogaram para o alto, e o outro grupo pegava e lançava longe.... Até que a cobra caiu desfalecida e sem forças para reagir.
            Após alguns dias o pastor e o menino retornavam pelo mesmo local e resolveram fazer uma visita à cobra. Ao se aproximarem perceberam que ela estava inerte e muito machucada. Chegaram mais perto e ela não reagiu, permaneceu caída. Assustado o pastor se aproximou ainda mais, agachou-se e perguntou o que acontecera.
            Desfalecida e muito machucada ela disse: "Pastor, veja o que o seu evangelho do amor fez comigo. Resolvi mudar e ser boa quando os meninos se aproximaram e ao notarem que eu estava diferente e dócil resolveram brincar comigo".
            O pastor ficou atento para ver o que aconteceu depois disso. "Eles me jogaram para os lados, para cima, puxaram, esticaram e abusaram da minha bondade porque eu estava mansa e permiti a brincadeira". E a cobra prosseguiu explicando toda a maldade que fizeram a ponto de desfalecer. Indignado o pastor se aproximou compadecido e disse: "Você podia ao menos ter silvado, ameaçado atacar pra se proteger".
            Assim é com as pessoas também, se não houver limite ou não for detalhado até onde elas podem ir, o resultado pode ser desastroso. Em tudo há que se ter uma medida, tanto ao se doar, quanto ao receber. Não é preciso exagerar a ponto de ultrapassar os seus limites, mas se houver abuso tente ao menos silvar!
É muito importante ter a medida certa tanto pra se doar, quanto pra receber. De que vale doar-se intensamente sem olhar para si mesmo e sem medir seus limites de tolerância? Muitas vezes o ato de doar-se torna-se automático, já não surte mais o efeito desejado, e com o tempo vira obrigação. Ugh!
É nesse momento, ou melhor, antes desse momento que é preciso parar e fazer uma avaliação, ou melhor, tentar ao menos silvar...
            Só pra registrar, há alguns anos eu li esse texto num livro, não me recordo o nome, por isso fiz essa adaptação. Hoje ao acordar me veio a lembrança desse texto, e então corri ao meu notebook pra escrever aos meus caros leitores. “A inspiração natural e a emoção sempre regem os meus textos”.  Tenham ótimos dias e muitas alegriasss...

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