Foto: Studio $P
Conta a lenda
que certa vez passando por um vilarejo distante vinha um pastor e um menino
caminhando lentamente e trocando ideias. Em determinado momento ao se
aproximarem de uma quadra onde alguns meninos brincavam na rua, eles se
dirigiram ao pastor e disseram:
"Pastor, não se aproxime muito daquela casa abandonada na outra quadra, porque
nela mora uma cobra perigosa. Ela ataca todos que se aproximam".
O pastor levou em conta o que ouviu e
ficou atento. Ao se aproximar do local mencionado olhou atentamente e viu que a
cobra saiu de sua toca rapidamente. Nesse momento ele deu um tempo. Ficou
observando cautelosamente e depois de uns minutos dirigiu-se a ela com
tranquilidade: “Bom dia, vejo que você é
malquista nesse lugar e todos se afastam porque você ataca quem se aproxima.
Que tal ser mais dócil, assim as pessoas podem se aproximar e até gostar de
você”.
A cobra ouviu a mensagem e ficou pensativa. Quem sabe
essa mudança de atitude poderia lhe render bons frutos e boas amizades. E assim
ela mudou de atitude.
No dia seguinte os meninos foram
brincar no lugar habitual e ao se aproximarem da cobra notaram que ela estava
diferente. Não atacava, não silvava e nem oferecia risco, estava dócil, como
pregara o pastor. Resolveram então se aproximar mais e mais até que chegaram
perto. Ela permaneceu mansa, não silvou, nem atacou. Os meninos estranharam
essa reação e resolveram brincar com a cobra. E ela aceitou!
Pegaram a cobra e esticaram, jogaram
um para o outro, fizeram cabo de guerra, cada grupo esticava a cobra para o seu
lado para medir força, enrolaram a cobra no braço e jogaram para o alto, e o
outro grupo pegava e lançava longe.... Até que a cobra caiu desfalecida e sem
forças para reagir.
Após alguns dias o pastor e o menino
retornavam pelo mesmo local e resolveram fazer uma visita à cobra. Ao se
aproximarem perceberam que ela estava inerte e muito machucada. Chegaram mais
perto e ela não reagiu, permaneceu caída. Assustado o pastor se aproximou ainda
mais, agachou-se e perguntou o que acontecera.
Desfalecida e muito machucada ela
disse: "Pastor, veja o que o seu evangelho do amor fez comigo. Resolvi
mudar e ser boa quando os meninos se aproximaram e ao notarem que eu estava
diferente e dócil resolveram brincar comigo".
O pastor ficou atento para ver o que
aconteceu depois disso. "Eles me jogaram para os lados, para cima,
puxaram, esticaram e abusaram da minha bondade porque eu estava mansa e permiti
a brincadeira". E a cobra prosseguiu explicando toda a maldade que fizeram
a ponto de desfalecer. Indignado o pastor se aproximou compadecido e disse:
"Você podia ao menos ter silvado, ameaçado atacar pra se proteger".
Assim é com as pessoas também, se
não houver limite ou não for detalhado até onde elas podem ir, o resultado pode
ser desastroso. Em tudo há que se ter uma medida, tanto ao se doar, quanto ao
receber. Não é preciso exagerar a ponto de ultrapassar os seus limites, mas se
houver abuso tente ao menos silvar!
É muito importante ter a medida certa tanto pra se
doar, quanto pra receber. De que vale doar-se intensamente sem olhar para si mesmo
e sem medir seus limites de tolerância? Muitas vezes o ato de doar-se torna-se
automático, já não surte mais o efeito desejado, e com o tempo vira obrigação. Ugh!
É nesse momento, ou melhor, antes desse momento que é
preciso parar e fazer uma avaliação, ou melhor, tentar ao menos silvar...
Só pra registrar, há alguns anos eu
li esse texto num livro, não me recordo o nome, por isso fiz essa adaptação. Hoje
ao acordar me veio a lembrança desse texto, e então corri ao meu notebook pra
escrever aos meus caros leitores. “A inspiração natural e a emoção sempre regem
os meus textos”. Tenham ótimos dias e
muitas alegriasss...
Sônia Puxian - Jornalista
https://www.correiodoestado.com.br/opiniao/sonia-puxian-voce-podia-ao-menos-ter-silvado/341614/
https://www.correiodoestado.com.br/opiniao/sonia-puxian-voce-podia-ao-menos-ter-silvado/341614/
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